O SOBREVIVENTE
José dos Santos até seria um homem completamente comum, não fosse a sua paixão pelo mundo do vídeo. Há trinta anos atrás decidiu lançar-se na aventura dos clubes de vídeo e é dela que vive desde então. «Na época ainda estávamos numa fase muito embrionária do aluguer, pois praticamente não existiam clubes em Portugal. Com alguma pesquisa e criatividade lancei-me ao desafio e abri o meu primeiro espaço, em Almada, com meia dúzia de cassetes. É óbvio que depois o vídeo começou a vingar cada vez mais e o negócio foi crescendo» - confessou-me o dono dos videoclubes "Disco Europa" numa conversa informal que me concedeu.
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José era então, na década de 80, aquilo que podemos designar como: “um homem à frente do seu tempo”. Analisou o mercado da cultura e entretenimento com algum cuidado e chegou a uma conclusão:
«O boom inicial desta área de negócio deveu-se essencialmente à falta de oferta que a televisão pública tinha. As pessoas recorriam muito ao clube de vídeo para poderem ter acesso ao cinema de uma forma acessível. Durante os primeiros anos os números dos alugueres não paravam de subir.»
Cedo José percebeu que a sua ideia tinha ganho espaço no mercado e decidiu alargar o negócio. «A Disco Europa teve sete lojas, das quais apenas quatro continuam em funcionamento. A mãe de tudo isto é a loja de Almada, depois surgiu esta da Costa. Com o sucesso destas duas decidi, gradualmente, abrir mais cinco.»
«O boom inicial desta área de negócio deveu-se essencialmente à falta de oferta que a televisão pública tinha. As pessoas recorriam muito ao clube de vídeo para poderem ter acesso ao cinema de uma forma acessível. Durante os primeiros anos os números dos alugueres não paravam de subir.»
Cedo José percebeu que a sua ideia tinha ganho espaço no mercado e decidiu alargar o negócio. «A Disco Europa teve sete lojas, das quais apenas quatro continuam em funcionamento. A mãe de tudo isto é a loja de Almada, depois surgiu esta da Costa. Com o sucesso destas duas decidi, gradualmente, abrir mais cinco.»
O dono da Disco Europa sabia que manter sete lojas lhe traria alguns riscos, mas foram, aparentemente, riscos calculados, visto que sobreviveram todas às duas primeiras grandes crises do setor. «A primeira quebra surgiu com o aparecimento dos dois canais generalistas no início dos anos noventa. Mas não foi algo irremediável, visto que o vídeo conseguiu restabelecer-se passados poucos anos. A segunda quebra surgiu com o aparecimento dos chamados canais por cabo. Nessa mesma altura deu-se a saturação do VHS, enquanto formato, o que também não ajudou a reerguer os clubes.»
As estratégias eram claras: aumentar a oferta e chamar novos clientes, que aparentemente estariam a deixar de ser amantes da “vídeomania”. «Desde sempre me diferenciei de outros clubes de vídeo. «A pouco e pouco fui introduzindo outros produtos e serviços, como por exemplo a venda e aluguer de videojogos.»
As estratégias eram claras: aumentar a oferta e chamar novos clientes, que aparentemente estariam a deixar de ser amantes da “vídeomania”. «Desde sempre me diferenciei de outros clubes de vídeo. «A pouco e pouco fui introduzindo outros produtos e serviços, como por exemplo a venda e aluguer de videojogos.»
Seguiram-se tempos de bonança nos clubes de vídeo, muito por culpa de um novo aliado que surgia para revolucionar a experiência de visualização e sobretudo transporte de media: o DVD. «A situação voltou a melhorar muito com o aparecimento do DVD. Esta novidade atraiu imenso as pessoas e revelou-se um autêntico disparo de afluência às minhas lojas e a outros clubes em geral.»
Quando nada faria adivinhar um declínio tão rápido para o formato DVD, eis que surgiram novos “inimigos” e as cíclicas crises que foram afetando este setor voltaram a “atacar”. Desta vez sem remédios e estratégias à altura.
Numa primeira fase tudo passou por uma questão de comodidade dos consumidores. «Preguiça» à qual José não poupa criticas. «No final da última década as coisas se começaram a complicar imenso. Desde logo o aparecimento dos clubes de vídeo em casa. Isso fez com que as pessoas não precisassem de sair de casa para poder alugar um filme. Muitas acham que esse sistema é melhor, mas esquecem-se que por preguiça estão a gastar mais dinheiro por cada aluguer e não estão a ter um atendimento personalizado e especializado.»
Quando nada faria adivinhar um declínio tão rápido para o formato DVD, eis que surgiram novos “inimigos” e as cíclicas crises que foram afetando este setor voltaram a “atacar”. Desta vez sem remédios e estratégias à altura.
Numa primeira fase tudo passou por uma questão de comodidade dos consumidores. «Preguiça» à qual José não poupa criticas. «No final da última década as coisas se começaram a complicar imenso. Desde logo o aparecimento dos clubes de vídeo em casa. Isso fez com que as pessoas não precisassem de sair de casa para poder alugar um filme. Muitas acham que esse sistema é melhor, mas esquecem-se que por preguiça estão a gastar mais dinheiro por cada aluguer e não estão a ter um atendimento personalizado e especializado.»
Introduzindo a temática da “preguiça humana”, eis que me lembrei de uma hipérbole que a meu ver faz todo o sentido no meio desta história.
Trata-se de um sketch muito engraçado que retirei do segundo episódio de Bob e Margaret, uma série norte-americana de animação, do início do novo milénio. No vídeo vão relembrar o trabalho que dava fazerem-se “sócios” de um clube de vídeo para poderem começar a fazer alugueres. Um simples cartão que se revelava um autêntico "passaporte da vídeomania". |
Mas se a chamada “TV on demand” deu o primeiro tiro nos videoclubes, então a pirataria aniquilou-os por completo. «Por fim, e com grande força, surgiu a pirataria em massa que arruinou por completo os clubes. Numa primeira fase através de cópias ilegais e agora com o acesso aos filmes através de streaming, onde qualquer pessoa mesmo não percebendo muito de informática pode ver filmes gratuitamente.»
São raros os clubes que ainda sobrevivem depois desta “devastação”, mas a Disco Europa tem vindo, teimosamente, a manter-se de pé. José explicou-me como. «O método que encontrei para manter as minhas lojas abertas foi a criação de alternativas. Modificámos as lojas com outros produtos e a base de sustentação deixou de ser o vídeo. Ainda temos clientes para o vídeo, é certo, mas é um pequeno nicho principalmente composto por pessoas com mais idade que não recorrem à internet para se entreterem, ou que não querem ter encargos com o aluguer através da televisão.»
São raros os clubes que ainda sobrevivem depois desta “devastação”, mas a Disco Europa tem vindo, teimosamente, a manter-se de pé. José explicou-me como. «O método que encontrei para manter as minhas lojas abertas foi a criação de alternativas. Modificámos as lojas com outros produtos e a base de sustentação deixou de ser o vídeo. Ainda temos clientes para o vídeo, é certo, mas é um pequeno nicho principalmente composto por pessoas com mais idade que não recorrem à internet para se entreterem, ou que não querem ter encargos com o aluguer através da televisão.»
No fundo a adaptação gradual a novos produtos que os clubes Disco Europa foram fazendo, ajudaram a que os clientes não notassem a diferença.
«Não foi difícil introduzir novos produtos nas lojas. Sempre me fui atualizando junto dos clientes, acrescentando produtos que sabia que supriam a necessidade de quem nos visita regularmente.»
Só essa gestão permite que José vá pagando aos empregados dos quatro clubes que mantém abertos. No caso da Costa da Caparica uma das funcionárias é Ana Freitas. Portuense de nascença, decidiu mudar de cidade e concorreu a um emprego que julgava extinto. «Trabalho aqui há um ano. Na época em que concorri ao trabalho tinha chegado do Porto há pouco tempo e não sabia que ainda existiam vídeo clubes. Achei imensa graça ao trabalho, porque o primeiro emprego da minha mãe também foi num clube de vídeo.»
«Não foi difícil introduzir novos produtos nas lojas. Sempre me fui atualizando junto dos clientes, acrescentando produtos que sabia que supriam a necessidade de quem nos visita regularmente.»
Só essa gestão permite que José vá pagando aos empregados dos quatro clubes que mantém abertos. No caso da Costa da Caparica uma das funcionárias é Ana Freitas. Portuense de nascença, decidiu mudar de cidade e concorreu a um emprego que julgava extinto. «Trabalho aqui há um ano. Na época em que concorri ao trabalho tinha chegado do Porto há pouco tempo e não sabia que ainda existiam vídeo clubes. Achei imensa graça ao trabalho, porque o primeiro emprego da minha mãe também foi num clube de vídeo.»
Ana confirmou-me que os produtos que mais vendem nem são os filmes, mas esses ao contrário do que muitos pensam, ainda vão saindo da prateleira. «Aquilo que acaba por vender mais é o tabaco e as bebidas, sem dúvida. Tanto que decidimos alargar a diversidade de bebidas, através de pedidos de clientes que iam cá passando. Mas ainda saem bastantes filmes, principalmente de animação, porque os miúdos gostam muito de vir ao clube de vídeo. Depois o que acaba por sair mais são as novidades, visto que ainda há muita gente que sabe que elas chegam cá mais rápido. E claro que temos sempre os nosso clientes habituais que gostam da rotina dos clubes de vídeo e que não prescindem disso.»
Já de saída questionei o dono, José dos Santos, sobre aquilo que será o amanhã do vídeo. Há futuro para um negócio destes? A resposta foi bem conclusiva. Própria de “um filme que espera sequela”. «Acho que perante a evolução do mercado já podemos dizer que não existem clubes de vídeo. Aliás, hoje em dia quando me perguntam que tipo de lojas tenho, já nem sei bem o que responder, porque não sei se devo responder clube de vídeo ou loja de conveniência. Mas olhando tudo o que já passei com esta minha Disco Europa aprendi que o futuro deve ser visto a curto e médio prazo. Por isso enquanto tiver clientes interessados em alugar filmes, ou simplesmente arriscar uma raspadinha, cá estaremos para os receber.»
Já de saída questionei o dono, José dos Santos, sobre aquilo que será o amanhã do vídeo. Há futuro para um negócio destes? A resposta foi bem conclusiva. Própria de “um filme que espera sequela”. «Acho que perante a evolução do mercado já podemos dizer que não existem clubes de vídeo. Aliás, hoje em dia quando me perguntam que tipo de lojas tenho, já nem sei bem o que responder, porque não sei se devo responder clube de vídeo ou loja de conveniência. Mas olhando tudo o que já passei com esta minha Disco Europa aprendi que o futuro deve ser visto a curto e médio prazo. Por isso enquanto tiver clientes interessados em alugar filmes, ou simplesmente arriscar uma raspadinha, cá estaremos para os receber.»
Uma reportagem de Mário Alexandre Borges
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